terça-feira, 5 de abril de 2011

Capitulo 3 - Verdades

Bufei alto e rolei os olhos propositalmente.

Nicholas sentou-se ao meu lado e sorriu em minha direção logo após, senti vontade de socá-lo.

- Você só pode estar brincando. – murmurei baixo, para mim mesma.

- Não fique nervosa Lovegood, a culpa não é minha. A senhora Sanders que me mudou de sala, não posso fazer nada. Ah e além do mais, eu não vou atrapalhar.

- Já esta fazendo isso. – sorri.

- Eu certamente entendo o motivo desta sua raiva por mim, mas, afinal, você vai continuar sendo criança até que ponto para continuar com isso?

- Não tenho tempo para discutir nossa preciosa inimizade.

- Preciosa?

- Sim e muito, não quero acabar com ela nunca.

- Ah, sim. Eu também, não se preocupe. – disse ele, firmemente.

- Ótimo.

Nicholas não interrompeu o restante de minha aula com suas palavras estúpidas, o que eu denominei extremamente estranho. Não que eu houvesse parado para notar, mas ele parecia um pouco longe. Suas sobrancelhas estavam levemente pesadas e seus olhos pendiam no chão. Era estranho vê-lo desta forma, tão indefeso aos meus insultos. Resolvi ficar quieta por toda a extensão daquelas minhas aulas e ao final de tais, ele foi embora dando um adeus com apenas um aceno de cabeça.

Algo estava, literalmente, acontecendo. E eu precisava saber.

***

Após meu infeliz final de semana, a segunda feira começou fria e nevoenta.

Os carros passavam apressados por minha janela, e as ruas estavam escorregadias de tanta neve. O inverno deste ano estendia-se tão intenso quanto o outro. Vesti-me mal-humorada, pendi minha mochila em minhas costas e desci as escadas passando rapidamente pela cozinha. Corri para fora de casa em direção á escola, logo pisei no grande pedaço branco que encobria minha calçada.

Caminhando vacilante, faltavam apenas quatro quarteirões para minha escola. Consideravelmente longe, levando em conta que eu não acordei muito cedo. Um carro prateado buzinou á minha esquerda.

- Bom dia, Lovegood. – reconheci a voz pela sua familiar ironia.

- Não incomode.

- Você quer carona? Está nevando e ainda falta um pouco para você chegar. – ele parecia simpático. Se eu não o conhecesse.

- Agradeço a oferta, mas, não, não quero. – sorri desdenhosa enquanto ele me acompanhava com o carro lentamente.

- Pare de ser tão rabugenta e suba logo em meu carro. Está frio e você está sendo infantil. – ele rolou os olhos.

- Eu já disse que não. Eu não vou pegar carona com você e ir com seu carro. – resmunguei baixo.

- Ok, já chega! – ele gritou nervoso. Paralisei por alguns instantes quando o vi parar o carro e andar em minha direção.

Ele parou exatamente em minha frente, suas mãos bagunçavam seus cabelos rapidamente.

- Eu não sei o porquê de você ser assim comigo, quer dizer, eu adoro te irritar, mas eu ainda não vejo motivo para não sermos amigos. – ele resmungou alto.

- Ah você não vê? – perguntei nervosa. – Você quer que eu te lembre o motivo, por acaso?

- Amber, já faz muito tempo. – ele para realmente desconfortável.

- Escute, eu não quero e não vou ser sua amiga. Pode até ser uma questão de orgulho, levando em conta que você já me pediu desculpas. Mas aquilo foi ridículo e me deixou mal. E eu não sou boba o suficiente para acreditar que você já tenha mudado. – disse simplesmente, balançando os ombros.

- Eu não queria ter feito aquilo, eu já te contei. E eu estava bêbado, era uma festa! Por deus, Amber pare de ser tão orgulhosa. Antes disso nos éramos melhores amigos, lembra? Por que pensar essas coisas quando temos um passado bem melhor para lembrar? – ele sorriu. – Eu te conheço desde os seis anos.

- Por mais que existam momentos bons mais do que ruins entre a gente, eu não consigo esquecer o pior e também não vou. Agora volte para onde você pertence que eu volto para onde eu pertenço. Somos pessoas diferentes Nicholas, e você sabe disso.

- Isso não te incomodava quando éramos mais novos. – ele bufou baixinho. – Eu ser popular.

- Bom, eu também não me importava com o fato de ter pais. E agora o que mais me importa é o fato de não os ter.

Nicholas parou para pensar um pouco, ele conheceu meus pais, ele conviveu com eles e ele chorou junto comigo quando eu precisei. Mas, tudo isso passou, são apenas memórias inúteis.

- Eu sinto falta deles também, Amber. Pode parecer que não, mas sinto.

- Não, você não sente. – resmunguei. – Vou indo, já estou atrasada e não quero perder o primeiro tempo. Vemos-nos hoje á tarde. – dei a volta por seu corpo e andei o resto de quadras que faltavam para meu colégio. Submersa e totalmente perdida.

Eu era orgulhosa demais.

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